1649-014

Aqui suplantam-se os intelectuais...

segunda-feira, dezembro 01, 2008


Tabacaria

Quieto, esquecido pelo passar dos momentos, abro as narinas, e através do fumo que respiro , exalo o negro que me habita. Acendo mais um simbólico cigarro, que se apaga no mesmo cinzeiro ardido de antes.
Foram as passadas do vício que me levaram à Tabacaria…oh saudosa Tabacaria, sorriso que renasce por entre jornais sujos e revistas inúteis.. Chamai-me para ser a mais vibrante página desta semana de tópicos que se sucedem, ao ritmo da perecibilidade dos gestos nossos.
Dou por mim a passear à beira mar, com um sem número de jornais debaixo do braço, mas sem nenhuma intenção de os ler.
Não resisto ao chamamento da maresia, e aproximo-me..
Despeço-me do sol, enquanto fecho os olhos e inspiro longamente. Acaricio a água gélida com a ponta dos dedos, como se o mar imenso fosse a minha doce apaixonada, que com o seu arrepio me desperta ainda mais o desejo.Finalmente, decido-me a mergulhar, braçada a braçada, afundo-me cada vez mais no oceano, enquanto os peixes que se cruzam na minha rota me observam com o espanto dos que já perderam a esperança de chegarem à sua praia. O fôlego se vai perdendo através das bolhas de ar que se escapam, anunciando a minha chegada aonde a luz não é conhecida, apenas a segurança da escuridão.O oxigénio já escasseia nos meus pulmões, torvando ainda mais as formas do fundo marinho, mas a imagem do sorriso nos seus lábios, é a energia vital que me aquece a alma e revitaliza os braços doloridos, que num movimento contínuo se aproximam de onde a vida finda e o sonho se esconde. Enfim, um cavalo marinho vermelho, anuncia a minha chegada ao mais cobiçado dos destinos. Dobro a última esquina sombria, e lá está ela, tão imóvel como bela, iluminando tudo em seu redor, projectando o mesmo berrante cavalo marinho na tela negra do fundo do mar. O meu espanto com esta beleza da natureza, faz-me duvidar da realidade.Assim, abraço aquele luzidio globo gigante que se destaca da ostra que o gerara, enquanto o meu corpo se vai mortificando a seus pés, e o negro substitui a sua luz.
Acordo, de súbito! Com a respiração ofegante,ergo a cabeça e limpo o suor que me escorre pela testa. Com um cigarro, e entre o fumo que expiro, o sôfrego coração recupera das emoções do mergulho. Olho para o lado e abraço-te longamente…

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